correspondências misteriosas

Sementes misteriosas vindas da China chegam a três cidades da região

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)
O motorista aposentado Procópio de Souza Oliveira, 72 anos, recebeu a semente e chegou a plantá-la

Pessoas de diferentes regiões do país têm recebido pacotes não encomendados com sementes vindas da China. Moradores da Região Central já encaminharam três amostras à Inspetoria de Defesa Agropecuária de Santa Maria. De acordo com o fiscal estadual agropecuário e engenheiro agrônomo Fernando Thiesen Turna, os destinatários eram de endereços de Santa Maria, no Bairro Perpétuo Socorro, Mata e São Gabriel. Segundo Turna, o morador de São Gabriel havia comprado um caça moscas pela internet e recebeu junto o pacote. Nos outros endereços, as sementes vieram sem nenhuma outra mercadoria. 


Os envios vêm sendo registrados desde agosto nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e países da União Européia. Segundo o jornal New York Times, a agência federal do departamento de agricultura dos Estados Unidos, a USDA, vem investigando a prática e considera a hipótese de "brushing scam". Este seria um recurso utilizado por empresas de e-commerce para melhorar as avaliações dos compradores na internet. As empresas utilizariam ilegalmente os dados pessoais para enviar os pacotes e então fazer avaliações positivas do próprio produto com o registro do envio .

ALERTA
O material coletado na região já foi encaminhado à Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Estado. No Brasil, os estados encaminham os pacotes para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e as sementes são examinadas no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária em Goiás.

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De acordo com o chefe da divisão de Defesa Sanitária Vegetal da secretaria estadual de Agricultura, Ricardo Felicetti, o Rio Grande do Sul recebeu, até o momento, 27 pacotes. Parte já foi encaminhada para laboratório. Os primeiros resultados indicam a presença de ácaros, fungos e bactérias.

- O grande receio é que, em função de se tratar de espécies exógenas (que não são nativas), elas possam se comportar como invasoras causando danos tanto para o meio ambiente como para as lavouras, e gerar prejuízo econômico. Esse material também pode veicular pragas e outras espécies de organismos que venham se comportar como pragas enquanto não passarem por nenhum procedimento de controle - esclarece Felicetti.

Ainda, conforme Felicetti, as autoridades brasileiras também acreditam que o motivo dos envios seja um estratégia comercial das empresas com vendas online. 

RECEBEU O PACOTE?  VEJA COMO PROCEDER
O engenheiro agrônomo Fernando Thiesen Turna ressalta que a orientação para quem receber correspondências com as sementes é que evitem abrir os pacotes e que não descartem no lixo ou esgoto, nem no meio ambiente.

- Temos notícia que, em outros estados, existem pessoas que chegaram a plantar as sementes e eram plantas tóxicas. Podem ser sementes com o potencial invasor, que podem se alastrar, e podem ser inclusive origem de alguns patógenos, fungos, ácaros. O ideal é não abrir, até porque a gente não sabe o que é.

O motorista aposentado Procópio de Souza Oliveira, 72 anos, recebeu um pequeno pacote com escritas em chinês, endereçado para Santa Maria. No interior deste pacote havia uma embalagem que abrigava a semente. A embalagem ilustrava uma flor azul e não tinha mais nenhuma escrita ou orientação. 

- Faz um tempinho já. Quando abri e vi que era uma semente, até cheguei a botar na terra, mas quando meu amigo contou sobre o boato das sementes chinesas, eu fiquei com receio então tirei do vaso e guardei - conta. 

AMEAÇA À PRODUTIVIDADE
O professor do curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e coordenador da equipe FieldCrops, Alencar Júnior Zanon, alerta para o risco de cultivo das sementes cuja origem não se sabe. Ele destaca principalmente a ameaça às lavouras de soja, já que o Brasil figura entre as melhores genéticas e referência de produtividade nesta cultura:

- Podem vir muitas doenças e doenças que não são naturais da região e do Brasil. Germinar essas sementes pode trazer uma doença que, dependendo do seu comportamento, pode se disseminar para outras lavouras. Isso pode ser muito perigoso pensando na sustentabilidade da nossa lavoura de soja.

O professor cita o capim annoni, uma gramínea trazida da África do Sul para ser utilizada como pastagem no Rio Grande do Sul:

- O capim annoni prometia ser uma revolução para os campos gaúchos e hoje é uma das principais plantas daninhas que a gente tem. Então, a gente tem que tomar muito cuidado quando entra esse tipo de semente e se cultiva isso, porque pode gerar problemas graves de médio a longo prazo.

O QUE FAZER COM AS SEMENTES RECEBIDAS:

  • A orientação da secretaria estadual da Agricultura é que as sementes não sejam abertas e sejam entregues nas inspetorias regionais. Os técnicos também fazem a coleta das sementes no endereço.
    Inspetoria de Defesa Agropecuária (IDA) de Santa Maria - Rua Frederico Augusto Treptow, 86, Bairro Noal
    Telefone - (55) 3222-4433

*Colaborou Natália Müller Poll

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